Ciclo Expanded Practices All Over

Fred Moten

Black Preformance: Violence com Fred Moten

O seminário começa com uma leitura de Hannah Arendt, Frantz Fanon e Emmanuel Levinas sobre violência – uma matéria que ficou inacabada no meu livro de 2018, The Universal Machine. O trabalho destes autores será observado num pano de fundo composto por trabalhos de Allen Feldman, Denise Ferreira da Silva e Hortense Spillers. A lente, e a questão geral da atitude através da qual esse foco pode ser alcançado, é fornecida por Zur Kritik der Gewalt (“Para uma Crítica da Violência”) de Walter Benjamin e por uma seleção da vasta crítica dessa obra, começando com o texto indispensável de Werner Hamacher, “Afformative, Strike.” Mas o que acontece quando a própria lente entra mais claramente em foco, ao ser enquadrada por algum trabalho de W. E. B. Du Bois que antecipa (John Brown), acompanha (Darkwater) e prossegue (Black Reconstruction in America) o texto de Benjamin. Essa abordagem palimpsestica exigirá algumas considerações de ângulos e de anjos. Tentaremos manter a fé topográfica nos textos, lendo atenta e lentamente em conjunto, para que possamos ver se a força preformativa do estudo negro [“black study”] torna as descrições exatas da violência um pouco mais possíveis. Falaremos um pouco sobre o discurso da violência na música popular negra, especialmente nos blues e na trap music, o que nos permite começar a tentar aguçar uma distinção entre violência e brutalidade. É possível que no seminário falemos sobre o emaranhado da violência com o amor (começando por pensar através da personagem Violet no Jazz de Morrison, aquela que mata o amante do marido e passa a ser conhecida em todo o bairro de Harlem como “Violenta”). Poderemos também discutir o modo como temos andado a pensar sobre violência aproximando-a de algo como uma condição “antológica”. (Imaginar “antológico” a ser dito com sotaque francês; imaginá-lo como uma alternativa tanto ao ontológico como ao “para-ontológico”, tal como Nahum Chandler o usa em, e talvez contra, a corrente de um infame filósofo alemão chamado Oskar Becker: tentaríamos trabalhar com tudo isso, de uma maneira que tentasse entender a “relação” irredutível, tal como a vemos, entre ontologia e individuação). Também podemos olhar para certos usos/reduções brutais da violência nos estudos negros [“black studies”] e pensar, de uma forma que não seja direcionada para denunciar ninguém, sobre o que significa que o assassinato e a morte prematura que atingem negros da classe trabalhadora sejam tratados por académicos burgueses, como nós, como se fossem micro-agressões dirigidas contra nós. Podemos falar sobre a diferença entre artistas e pensadores negros cansados de ver imagens da execução de negros e negros da classe trabalhadora cansados de serem executados. Podemos falar disso em termos da problemática da inquietação [“unrest”] e considerar a inquietação, que é a negritude enquanto condição antológica, como resposta à brutalidade que lhe responde. O que é que está em jogo quando a intelectualidade lúmpen do estudo negro é incorporada no empreendimento académico dos estudos negros? Devemos colocar esta pergunta não a partir de fora dos estudos negros, e não contra alguém de entre os seus praticantes, mas a partir de dentro, como uma violação amorosa e devotada levada a cabo pelos seus próprios praticantes. O seminário será documentado num zine com design e edição a cargo da editora maio maio.

Curadoria de Paula Caspão, no âmbito do ciclo de encontros Expanded Practices All Over. Centro de Estudos de Teatro, em parceria com o TBA. 

O seminário será documentado num zine com design e edição a cargo da editora maio maio.
Tendo em conta o interesse do ciclo Expanded Practices All Over em reparar nas implicações domésticas, infraestruturais e ecológicas das práticas de leitura, e o interesse de Fred Moten em sondar a materialidade, os movimentos, as sonoridades, os ritmos e as batidas da própria leitura enquanto prática coletiva — nomeadamente o seu entendimento do texto e do livro como experiências radicalmente sociais —, pensámos que o tipo de documentação que tocará mais de perto a proposta do seminário é um fanzine. O formato permite explorar as dimensões socio-coreográficas da linguagem e as noções de montagem e de revisão caras a Moten, e interrogar as nossas práticas de leitura mais comuns, as formas de (des)incorporação e as economias de com-posição que implicam; permite ensaiar epistemologias errantes que podemos abraçar como métodos rigorosos de (re)pensamento das nossas práticas de documentação/edição. 

Fred Moten ensina Black Studies, Teoria Crítica, Estudos de Performance e Poética nos Departamentos de Performance Studies e Literatura Comparada da Universidade de Nova Iorque. É autor de In the Break: The Aesthetics of the Black Radical Tradition e da trilogia consent not to be a single being, entre outros. Em coautoria com Stefano Harney escreveu The Undercommons: Fugitive Planning and Black Study, A Poetics of the Undercommons e All Incomplete

Datas: 3 a 5 de Outubro de 2022
Horário: 14h30 – 17h30
Local: TBA – Sala de Ensaios

Data de início: 05/10/2022 12:00 am

Investigadores



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