O mito de Fausto é, desde as suas primeiras manifestações literárias, uma representação do que no desejo de conhecimento é o conhecimento dos limites e a tentativa de os superar, em que cada passo é um passo em falso deslocando o desconhecido inicial. É também a descoberta do não-saber que acompanha todo o saber (científico, tecnológico, filosófico). É ainda a representação do pensamento como jogo, no qual a vida se compromete e se joga também. Nesse sentido, ao procurar escrever no século XX um Fausto, Pessoa iniciava, no caminho já percorrido por Browning, um novo género modernista, o do poema dramático, e na linha por outros também seguida nesse século (de Valéry a Thomas Mann), apresentar ao seu tempo um “novo” Fausto.
O poema dramático em que Pessoa pensa e que deixa inacabado é, na sua reformulação de temas do romantismo, um desafio que ele não pôde dar por terminado, concluindo-o, embora a obra, no seu inacabamento, tenha aberto rumos para a literatura, nomeadamente para a literatura em português, conferindo-lhe novas propriedades que são, segundo pensamos, rastreáveis a partir de um ponto de observação que é o nosso, de hoje.
A problematização dos aspectos em estudo deverá ser conduzida em várias frentes, desde a sua origem até às suas ramificações. Tratar-se-á, por conseguinte, de situar o Fausto de Pessoa e a sua temática na modernidade europeia do século XX, em particular no quadro das duas ou três primeiras décadas deste século, bem como de, segundo uma orientação um pouco diferente, mas complementar, demonstrar que esse longo poema inacabado continua a produzir os seus efeitos na literatura das últimas décadas, em prosa ou em verso, sobretudo se pensarmos que a relação que interessa esclarecer é a que nasce de uma comum tendência para a indagação pressuposta no poema filosófico, em sentido lato.
Na literatura portuguesa essa influência do texto de Pessoa pode detectar-se em obras de autores como Jorge de Sena, que primeiro notou o “efeito” Pessoa que aqui procuramos descrever, e nas últimas décadas, escritores como Fiama Hasse Pais Brandão, Nuno Júdice, Manuel António Pina, Manuel Gusmão, Maria Gabriela Llansol, António Franco Alexandre, R. Lino, António Vieira ou Gonçalo M. Tavares, entre outros, parecem responder, nas suas obras ao mesmo tipo de indagação colocada pelo Fausto de Pessoa.
Data: 5 de Novembro de 2020
Horário: 10h15 às 17h00
Organizadores: Patrícia Soares Martins, Fernando Guerreiro, Golgona Anghel
Com o apoio de: CLEPUL/FLUL, CET/FLUL, IELT/FCSH-UNL
Acesso à conferência via Zoom: https://videoconf-colibri.zoom.us/j/85285698334?pwd=OTJoZ1VGQlJvaEc5M3I5NTJTY1Judz09
Senha de acesso – 754553