Movimento na pausa: coreopolícia, “expressing oneself,” e a pandemia. Uma conversa.
No lockdown, na pausa, na suspensão, à medida que nossos movimentos, gestos e ações sofrem transformações radicais, comprimidos como estão aos limites definidos pelas nossas paredes, logo percebemos que nada realmente parou. Nem dentro de nossas casas nem no mundo exterior, onde moradores de rua sobrevivem à mercê de mais ou menos negligência planejada, de maior ou menor brutalidade policial, de alguma ou nenhuma caridade. Abrigados em casa, finalmente disponibilizados para o trabalho e à permanente vigilância, percebemos que o que o atual estado de emergência declara não é o respeito pela vida – uma vez que, na emergência, a morte de populações marginalizadas não é uma questão sobre a qual o capital e o poder se detenham nem por um segundo sequer. O que a emergência possibilita, sobretudo, é a concessão de permissões para o movimento: quem, quando, como e para onde. Coreopoliciamento que com certeza já prepara o terreno para o futuro cinético das populações, num suposto momento de ‘pós-pandemia’.
André Lepecki é Professor Catedrático e Director do Departamento do Estudos da Performance na New York University. Coordenador editorial de várias antologias sobre dança e teoria da performance, incluindo Of the Presence of the Body (2004), Dance (2012), and Points of Convergence (with Marta Dziewanska, 2015).
Enquanto curador independente, criou projectos para HKW-Berlin, MoMA-Warsaw, MoMA PS1, the Hayward Gallery, Haus der Künst-Munich, Sydney Biennial 2016, entre outras instituições nos Estados Unidos, Brasil e Europa. Palestras incluem Gauss Seminar at Princeton University, Brown University, École des Hautes Études en Sciences Sociales – Paris, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Freie Universität – Berlin, Universidade de Lisboa, Roehampton University, University of New South Wales, University of Ghent, entre várias outras.
Autor de Exhausting Dance: performance and the politics of movement (2006, publicado em 13 línguas), e de Singularities: dance in the age of performance (2016). Foi premiado com o AICA-US “Best Performance” 2008 pela co-curadoria e direção do redoing de 18 Happenings in 6 Parts de Allan Kaprow (uma comissão de Haus der Kunst 2006, apresentado também na PERFORMA 07).
Nos anos 1980 e 1990, trabalhou como dramaturgisch dos coreógrafos Francisco Camacho, Vera Mantero, João Fiadiero e Meg Stuart/Damaged Goods, com quem aprendeu a pensar dança e performance. Desde 2003, colabora e participa de várias “Ações” de Eleonora Fabião.
Chamada à participação
O evento será realizado em português e terá um número limitado de participantes. Para se inscrever, por favor envie um e-mail para unsafeseries@gmail.com, a partir do qual virá a receber informação complementar e as credenciais para aceder à sessão via Zoom.
Organização: Maíra Santos & Gustavo Vicente (Centro de Estudos de Teatro – Universidade de Lisboa)
Date: 05 de Maio de 2021, 17h30-19h30/Hora de Lisboa (WET, GMT+1)
Plataforma Online: Zoom
Conversas (In)seguras é um ciclo de conferências à distância com artistas, académicos e outros pensadores convidados em torno dos estudos artísticos. Esta é uma das estratégias do Centro de Estudos de Teatro para procurar novas formas de estar e pensar em conjunto no presente contexto social, ao mesmo tempo que mantém um fluxo provocador de discussões académicas.