Normas de Transcrição

A transcrição dos textos em português é tendencialmente regularizadora e toma como referência a ortografia que está em vigor em Portugal desde 1945. Esta medida justifica-se pelo facto de a presente edição ser acompanhada de reproduções facsimiladas das edições quinhentistas dos textos, o qual a dispensa de preocupações figurativas quer a nível ortográfico, quer tipográfico. Todas as letras e sinais que não pertencem à norma vigente são substituídos pelos seus correspondentes modernos, excepto se traduzirem um facto de língua próprio do séc. XVI que não possa ser de outra forma representado; neste caso, são conservadas as grafias antigas. Assim como a estrutura discursiva, a frase e o vocabulário de cada texto são deixados intactos (ressalvados os manifestos erros da edição de base, que são emendados e anotados), assim a prosódia e a fonética o são também. Este cuidado de não tocar nos factos de língua é imperativo em qualquer edição de texto antigo, mas ganha especial significado quando se trata de textos de teatro, que foram concebidos para serem produzidos em voz alta e não em leitura silenciosa.

Sendo este o princípio fundamental da transcrição dos textos portugueses, especifica-se agora a sua aplicação no pormenor:

Vocalismo – a maior parte das grafias relativas a vogais orais e nasais e a ditongos são conservadas sem alteração (molher, baxo, cea), mas:

1. As vogais geminadas são simplificadas (irmãa > irmã), recebendo acento quando a geminação é marca da tonicidade ou abertura da vogal (cuydaraa > cuidará, atee > até); o mesmo é feito em contentees > contentês, em que a geminação é etimológica mas corresponde a uma vogal monotongada, como prova a rima com cortês.

2. As letras y e e com valor de semivogal são substituídas por i (taes > tais, cuydaraa > cuidará).

3. A letra o com valor de semivogal é substituída por u (mao > mau, lingoagem > linguagem); mas em certos casos foi mantida a grafia original (deos, descreo).

4. As formas da 3ª pessoa plural do presente do indicativo dos verbos ver e ter são mantidas como vem e tem monossilábicos.

5. A grafia das vogais nasais é modernizada em qualquer posição (mãcebo > mancebo, quẽ> quem, gram > grã); o mesmo se faz com a grafia –am do ditongo nasal tónico (Inquisiçam > Inquisição), com excepção de alguns casos muito frequentes de variação, que foi conservada (nam e não, entam e então). A forma homográfica sam foi conservada como substantivo proclítico (= santo) e como 1ª pessoa singular do presente do indicativo de ser, mas foi modernizada para são quando 3ª pessoa plural do mesmo tempo e quando adjectivo. No artigo feminino ũa e formações derivadas manteve-se essa grafia, não se tendo ainda desenvolvido a forma epentética uma.

Consonantismo

6. As consoantes duplas são simplificadas (fallam > falam).

7. As grafias cultas que não permanecem na ortografia actual são simplificadas (sancto > santo; Christo > Cristo; throno > trono).

8. A letra u com valor de consoante é mudada para v (deuaçam > devação).

9. As grafias das sibilantes são regularizadas pela ortografia moderna (çapato > sapato, descançar > descansar, asi > assi, excutar > escutar, sizudo > sisudo).

10. A grafia qu antes de a ou o é regularizada para c (fiquo > fico). O mesmo se passa com g antes de e ou i, que passa para j quando a ortografia moderna o faz (geito > jeito).

11. A grafia do h é regularizada de acordo com a etimologia e a ortografia actual: é eliminado quando não etimológico (hum > um) e é restituído quando etimológico (oje > hoje).

Outras normas

12. A separação de palavras segue o uso moderno, recorrendo ao apóstrofo ou ao hífen quando necessário
(quentre > qu’ entre, quee > qu’ é, quereismo > quereis-mo, daruos ey > dar-vos-ei, queyxarsam > queixar-s’-ão).

13. As abreviaturas são desenvolvidas (q > que).

14. O emprego de maiúsculas é regularizado nos nomes próprios e inícios de frase.

15. A acentuação das vogais é distribuída segundo a ortografia actual.

16. A pontuação é aplicada com parcimónia, procurando não ser directiva quando à prosódia ou à estrutura da frase.

17. Nos textos em castelhano e em saiaguês, a regularização das grafias é feita tomando como padrão formas atestadas pelo próprio texto ou por outros da mesma edição.



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