No ano de 1601, saíam da imprensa lisboeta de Pedro Crasbeeck as Comédias Portuguesas, obra do «excelente poeta Simão Machado», representantes de dois géneros temáticos: o drama histórico, na Comédia de Diu, e o drama pastoril, na Comédia da Pastora Alfea, a bucólica mais ambiciosa do teatro peninsular.
Nas duas partes da Comédia de Dio encena-se a precária situação da guarnição portuguesa em Diu, em 1538. A matéria histórica vai servir para Simão Machado explorar os temas do amor e da intriga, para o que inventa complicadas tramas amorosas, variações sobre os tópicos do amor omnia vincit e da militia amoris, e conflitos entre honra e amizade, fidelidade e traição, introduzindo personagens fictícias na realidade histórica.
A estrutura da Comédia da Pastora Alfea assenta, em primeiro lugar, na distinção de dois planos sociais e dramáticos, o dos pastores nobres e o dos criados rústicos, grupos nitidamente diferenciados que ocupam alternadamente a cena, dispondo a interpretação dos motivos bucólicos tradicionais em torno de uma melodia central, sustentada pela pastora Alfea com os instrumentos da magia e do engano: a melodia da acção, em formato de intriga, aberta para a aventura de tom cavaleiresco e acompanhada por numerosos e admiráveis efeitos espectaculares.