Nota Editorial de Maria João Brilhante
Aqui se reúne uma centena de textos escritos e quase todos publicados entre 1971 e 1995. Vários deles registam o resultado de uma actividade docente que entendeu a universidade e os seus actores como oficina de transformação colectiva dos saberes.
Os textos que integram este livro são de dimensões muito diversas, adaptados ao lugar de publicação ou à função que visavam cumprir. Reconhece-se o predomínio de textos sobre teatro ou literatura dramática. Gil Vicente é objecto de eleição e, sem dúvida, a contribuição mais fértil do trabalho crítico de Osório Mateus. Os seus estudos sobre os autos são hoje incontornáveis e realizam, na segunda metade do século XX, uma proposta de restauro das condições primeiras da sua existência teatral. Esta perspectiva preside, aliás, desde cedo ao modo de entender o estudo dos textos a que chamamos dramáticos, e muitos ensaios apresentam-se hoje como lugar de teorização sobre o teatro nas suas múltiplas formas. A teoria, a crítica e a história constituem os campos que cada um dos textos atravessa, mesmo aqueles que têm por objecto um espectáculo e que julgaríamos presos à circunstancialidade do evento teatral.
A seu modo, cada um deles consegue ser um certeiro gesto para uma história do teatro por fazer, tornando visíveis lugares-comuns ou inexactidões que importa identificar, abrindo lugares de interrogação, convocando instrumentos adequados ao trabalho imenso que espera por ser feito. Nas suas clareza e economia remetem para um universo de leituras e saberes que transcende os limites textuais e que contribui para irradiar até lugares e vivências de cada leitor a teia de ligações neles propostas.