Este projecto conduzirá ao reconhecimento, reunião e edição de obras que fazem a história do teatro no século XVI em Portugal. Permitirá coleccionar pela primeira vez um elenco de textos que nunca foram publicados ou que só conheceram uma edição, de autores que cimentaram a prática teatral de um século ou forneceram à leitura modelos velhos e novos. Uma rápida consulta do que na secção de reservados da Biblioteca Nacional existe sob a designação de textos de teatro dá conta de mais de trinta espécies, apontando para um fundo especial a necessitar de identificação e tratamento crítico, mas outras existirão entre os milhares de documentos desse período ali arquivados.
É, de facto, no século XVI que o teatro começa a desenhar-se como arte com recorte próprio: muitos autores que a história não conservou, e que este projecto recuperará do anonimato e do esquecimento, para isso iam contribuindo – Chiado, Baltesar Dias, Sebastião Pires, Afonso Álvares, António Prestes – no mesmo tempo em que Sá de Miranda propunha comédias humanísticas e António Ferreira experimentava a tragédia.
A escassa investigação nesta área leva a crer que muitos textos e autores estarão por encontrar encerrados em arquivos e bibliotecas. Fundamental para este projecto será uma pesquisa que permita reconhecer o maior número possível de objectos de modo a definir e alargar o corpus a editar (data de escrita ou de publicação, idioma, nacionalidade do autor). A edição seguirá uma metodologia já testada na preparação do CD-ROM Gil Vicente Todas as Obras: escolha entre lições diferentes, quando as variantes não são pertinentes, ou opção por editar ambas, sobretudo nos casos em que uma delas provém de um manuscrito, ou em que textos impressos diferem sobremaneira, definição de critérios de transcrição dos textos das edições quinhentistas, eliminando erros óbvios de tipógrafos, análise dos textos com vista à preparação do aparato crítico, estudo das condições fornecidas pelo suporte informático para explorar a informação coleccionada a partir da análise dos textos.
A actividade de preparação de uma edição em CD-ROM tem exigências que advêm do facto de o suporte informático permitir disponibilizar informação através de campos temáticos, glossário, notas críticas para a pesquisa. Sendo a capacidade de armazenamento muito vasta há que tirar partido da possibilidade de manipular a totalidade dos textos e todo o saber que pode ser convocado e colocado ao serviço da sua leitura. Se a informática aplicada às letras e ciências humanas é desafiada de modo a corresponder à multiplicação de articulações internas (interfaces) sugeridas pelo estudo dos textos, a técnica editorial tem também que tirar proveito das inúmeras possibilidades que a informática põe ao seu dispor, pensando não apenas no rigor da fixação dos textos, mas nos novos usos que de uma tal edição fará o seu utilizador, abordagens multidisciplinares até hoje impossíveis por não existir processo fácil e fiável de aproximar os textos e o seu paratexto.