O Centro de Estudos de Teatro foi a instituição escolhida por A M. Seabra para receber em doação os livros de teatro que faziam parte da sua vasta e variada biblioteca. Foi um gesto comovente e afectuoso que não esqueceremos. A par da discoteca e videoteca que eram verdadeiramente assombrosas, este núcleo mais pequeno revelava o interesse pelas artes cénicas também manifestado nos escritos que durante décadas, como crítico, dedicou à ópera e ao teatro, acompanhando a produção nacional e internacional. Já debilitado comparecia ainda há poucos anos no Festival de Almada e guardarei a sua imagem (e memória da sua companhia) durante o percurso do espectáculo Remote Lisboa dos Rimini Protokoll em maio de 2013, que tinha início no cemitério dos Olivais e terminava no devoluto Hospital da Marinha. O conjunto dos seus textos críticos merece cuidado e estudo. Através deles se fará a geografia cultural de um país do qual ele esperou sempre mais.
Maria João Brilhante